domingo, 27 de maio de 2007

Quase ao ponto!!!

Parece que os remédios começaram a fazer efeito.
Sim, eu tomo remédios.
Sim, eu tenho depressão.
Hoje me sinto um pouco melhor.
Muito melhor do que ontem e dias anteriores.
Me dei ao direito até de dançar ao som de Quereres de Caetano.
Pensei no meu futuro com um tom tão colorido.
Voltei a cuidar melhor da minha vida.
Mas enquanto as lentes cor de rosa ainda não de colocam à frente dos meus olhos, sigo vivendo os altos e baixos impostos por essa doença.

Feliz por estar conseguindo escrever.
Por estar conseguindo responder aos recados do orkut (e afins).
Por estar respirando mais leve.
E por não mais ligar pro fato de que agora meu apartamento tem telas de proteção graças a mim.
Não, eu nunca pensei em me matar, mas minha mãe, prevenida que é, se adiantou até aos meus pensamentos.
Queiram as fadas e duendes que essas telas nunca aprisionem um corpo, desperto algum desejo. Quer dizer, que nunca desperte algum desejo, que essas telas aprisionem. Apenas me repeti, não era isso ainda. Que o desejo nunca surja, para que as telas não se tornem um mal necessário. Cheguei ao ponto!!!

Mas assim, pra não dizer que só falei de flores, meu estômago dói muito nesse momento, continuo comendo descontroladamente e sem vontade de sair de casa. De resto, tudo bem!!! Parece pouco, mas esses ainda são importantes obstáculos a enfrentar.

terça-feira, 27 de março de 2007

Quase sem querer

Esse final de semana, durante a formatura de um amigo da época do colégio, percebi “quantas chances desperdicei quando o que eu mais queria era provar pra todo mundo que eu não precisava provar nada pra ninguém”*.

No intuito de mostrar para todos que eu não ligava pra colação de grau, festa e anel de formatura, acabei não colando grau no teatro e perdendo a chance de viver um momento tão especial.

Muito dessa minha decisão adveio do fato que eu não iria me formar com os meus amigos, que a época da minha formatura já haviam se formado, mas apenas com estranhos.

Mas aí eu já começo a questionar se ter largado a monografia no período em que eu deveria ter me formado no tempo certo não foi uma grandessíssima bobagem.

E quanto ao que eu estou fazendo agora? Largando a outra faculdade que estou cursando e voltando pra casa? Outra bobagem? E não ter sequer feito vestibular na minha cidade porque o que eu queria era morar fora?

Será que eu precisei ir tão longe pra perceber que eu posso ganhar o mundo sem sair de casa?

Será que esse tempo morando fora me fez crescer de alguma forma ou foi apenas uma perda de tempo?

E agora, volto ou não volto?
Tento mais um pouco?
Assumo logo que não deu certo e paro de perder tempo?
Eu vou agüentar as cobranças?
Procuro emprego?
Tento passar em um concurso público?
Faço outra faculdade? Mas de quê?

Sempre adequadas, deixo aqui uma música de Legião que muito gosto:

Quase Sem Querer

(Legião Urbana)

Composição: Dado Villa-Lobos, Renato Russo e Renato Rocha

Tenho andado distraído,
Impaciente e indeciso
E ainda estou confuso.
Só que agora é diferente:
Estou tão tranqüilo
E tão contente.

*Quantas chances desperdicei
Quando o que eu mais queria
Era provar pra todo o mundo
Que eu não precisava
Provar nada pra ninguém.*

Me fiz em mil pedaços
Pra você juntar
E queria sempre achar
Explicação pro que eu sentia.
Como um anjo caído
Fiz questão de esquecer
Que mentir pra si mesmo
É sempre a pior mentira.

Mas não sou mais
Tão criança a ponto de saber
Tudo.

Já não me preocupo
Se eu não sei por quê
Às vezes o que eu vejo
Quase ninguém vê

E eu sei que você sabe
Quase sem querer
Que eu vejo o mesmo que você.

Tão correto e tão bonito:
O infinito é realmente
Um dos deuses mais lindos.
Sei que às vezes uso
Palavras repetidas
Mas quais são as palavras
Que nunca são ditas?

Me disseram que você estava chorando
E foi então que percebi
Como lhe quero tanto.

Já não me preocupo
Se eu não sei por quê
Às vezes o que eu vejo
Quase ninguém vê

E eu sei que você sabe
Quase sem querer
Que eu quero o mesmo que você.

sexta-feira, 23 de março de 2007

Sobre a pequena vendedora de fósforos

Certa vez um maluco me disse que para que eu fosse a mulher da vida dele, só faltava eu ser fã do conto "A Pequena Vendedoda de Fósforos" de Andersen.

Eu não conhecia o conto e assim que li fiquei encantada com o texto.

Quanto ao maluco, eu podia até ser a mulher da vida dele, ou ter me tornado no momento em que li o conto e dele me encantei, mas definitivamente, ele não era o homem da minha vida.

“A Pequena Vendedora de Fósforos

Que frio tão atroz! Caía a neve e a noite vinha por cima. Era dia de Natal. No meio do frio e da escuridão, uma pobre menina passou pela rua com a cabeça e os pés descobertos.
É verdade que tinha sapatos quando saiu de casa, mas não lhe serviram por muito tempo. Eram uns sapatos enormes que sua mãe já havia usado: tão grandes, que a menina os perdeu quando atravessou a rua correndo, para que as carruagens que iam em direções opostas não lhe atropelassem.
A menina caminhava, pois, com os pezinhos descalços, que estavam vermelhos e azuis de frio, levava no avental algumas dúzias de caixas de fósforos e tinha na mão uma delas como amostra. Era um péssimo dia: nenhum comprador havia aparecido, e, por conseqüência, a menina não havia ganho nem um centavo. Tinha muita fome, muito frio e um aspecto miserável. Pobre menina! Os flocos de neve caíam sobre seus longos cabelos loiros, que caíam em lindos caracóis sobre o pescoço; porém, não pensava nos seus cabelos. Via a agitação das luzes através da janela; sentia-se o cheiro dos assados por todas as partes. Era dia de Natal, e nesta festa pensava a infeliz menina.

Sentou-se numa praça, e acomodou-se num cantinho entre duas casas. O frio apoderava-se dela, e inchava os seus membros; mas não se atrevia a aparecer em sua casa; voltava com todos os fósforos e sem nenhuma moeda. Sua madrasta a maltrataria, e, além disso, na sua casa também fazia muito frio. Viviam debaixo do telhado, a casa não tinha teto, e o vento ali soprava com fúria, mesmo que as aberturas maiores haviam sido cobertas com palha e trapos velhos. Suas mãozinhas estavam quase duras de frio. Ah! Quanto prazer lhe causaria esquentar-se com um fósforo! Se ela se atrevesse a tirar só um da caixa, riscaria na parece e aqueceria os dedos! Tirou um! Rich! Como iluminava e como esquentava! Tinha uma chama clara e quente, como de uma velinha, quando a rodeou com sua mão. Que luz tão bonita! A menina acreditava que estava sentada numa chaminé de ferro, enfeitada com bolas e coberta com uma capa de latão reluzente. Luzia o fogo ali de uma forma tão linda! Esquentava tão bem!
Mas tudo acaba no mundo. A menina estendeu os seus pezinhos para esquentá-los também, mas a chama apagou-se: não havia nada mais em sua mão além de um pedacinho de fósforo. Riscou outro, que acendeu e brilhou como o primeiro; e ali onde a luz caiu sobre a parede, fez-se tão transparente como uma gaze. A menina imaginou ver um salão, onde a mesa estava coberta por uma toalha branca resplandecente com finas porcelanas, e sobre a qual um peru assado e recheado de trufas exalava um cheiro delicioso. Oh surpresa! Oh felicidade! Logo teve a ilusão de que a ave saltava de seu prato para o chão, com o garfo e a faca cravados no peito, e rodava até chegar a seus pezinhos. Mas o segundo fósforo apagou-se, e ela não viu diante de si nada mais que a parede impenetrável e fria.
Acendeu um novo fósforo. Acreditou, então, que estava sentada perto de um magnífico nascimento: era mais bonito e maior que todos os que havia visto aqueles dias nas vitrinas dos mais ricos comércios. Mil luzes ardiam nas arvorezinhas; os pastores e pastoras pareciam começar a sorrir para a menina. Esta, embelezada, levantou então as duas mãos, e o fósforo apagou-se. Todas as luzes do nascimento se foram, e ela compreendeu, então, que não eram nada além de estrelas. Uma delas passou traçando uma linha de fogo no céu.
-Isto quer dizer que alguém morreu - pensou a menina; porque sua avozinha, que era a única que havia sido boa com ela, mas que já não estava viva, havia lhe dito muitas vezes: "Quando cai uma estrela, é que uma alma sobe para o trono de Deus".A menina ainda riscou outro fósforo na parede, e imaginou ver uma grande luz, no meio da qual estava sua avó em pé, e com um aspecto sublime e radiante.
-Avozinha! - gritou a menina. - Leve-me com você! Quando o fósforo se apagar, eu sei bem que não a verei mais! Você desaparecerá como a chaminé de ferro, como o peru assado e como o formoso nascimento!
Depois atreveu-se a riscar o resto da caixa, porque queria conservar a ilusão de que via sua avó, e os fósforos abriram-lhe uma claridade vivíssima. Nunca a avó lhe havia parecido tão grande nem tão bonita. Pegou a menina nos braços, e as duas subiram no meio da luz até um lugar tão alto, onde não fazia frio, nem se sentia fome, nem tristeza: até ao trono de Deus.
Quando raiou o dia seguinte, a menina continuava sentada entre as duas casas, com as bochechas vermelhas e um sorriso nos lábios. Morta, morta de frio na noite de Natal! O sol iluminou aquele terno ser, sentado ali com as caixas de fósforos, das quais uma havia sido riscada por completo.
-Queria esquentar-se, a pobrezinha! - disse alguém. Mas ninguém podia saber as coisas lindas que havia visto, nem em meio de que esplendor havia entrado com sua idosa avó no reino dos céus.” Hans Andersen